A escoliose idiopática é definida como   uma curvatura tridimensional ou bidimensional patológica da coluna   vertebral. Essa patologia afeta 0,5% da população infantil, 10,5% da   população juvenil e 89% da população adolescente. Este trabalho tem por   objetivo verificar a eficácia da técnica de Reeducação Postural Global   (R.P.G.) para corrigir a escoliose idiopática tipo adolescente do sexo   feminino. A paciente foi avaliada através da radiografia segmentada no   plano frontal, com o protocolo de avaliação postural global e com o do   teste de Adams, onde se diagnosticou uma escoliose idiopática   bidimensional. Neste caso as vértebras somente inclinam-se no plano   frontal, giram no plano axial, mantendo a cifose torácica fisiológica.   Tratou-se à mesma com a técnica de Reeducação Postural Global (R.P.G.)   nas posturas sentada e rã em pé no centro por 20 sessões, de 50 minutos   cada sessão, durante 10 semanas. Avaliou-se novamente a paciente após o   tratamento, com a radiografia segmentada no plano frontal, com o   protocolo de avaliação postural global e com o teste de Adams.   Comparou-se os dados obtidos na pré e pós-intervenção fisioterapêutica, e   observou-se aumento da flexibilidade, que proporcionou um discreto   alinhamento postural em relação à cadeia ântero-interna de ombro, e uma   redução de 6 graus na curvatura torácica e 3 graus na curvatura lombar   no método de Cobb. Portanto, comprovou-se a eficácia da técnica de   Reeducação Postural Global (RPG) mesmo considerando o número reduzido de   sessões.
  Palavras-chave: Escoliose. Tratamento. Reeducação. Postural.Global. Idiopática.
METODOLOGIA
  Tipo de Pesquisa
  A pesquisa é um estudo de caso, de natureza experimental, sendo uma   variação do plano clássico apresentado pré e pós-teste sem grupo   controle.
  Neste tipo de pesquisa, a manipulação das variáveis proporciona o estudo   da relação entre causas e efeitos de um determinado fenômeno. Com a   criação de situações de controle, procura – se evitar a interferência   das variáveis intervenientes e ainda pretende dizer de que modo ou por   que causas o fenômeno é produzido. (BERVIAN; CERVO, 2002, p.68)
  Caracterização do Sujeito
  Indivíduo adolescente, sexo feminino, 14 anos de idade, apenas portadora   de escoliose idiopática de grau médio segundo escala de Charrière e Roy   (1987), confirmado por diagnóstico médico, residente no município de   Santa Fé do Sul-SP. A escoliose em questão é classificada como   'escoliose destro-torácica e sinistro-lombar'.
  Instrumentos
  Radiografias segmentadas no plano frontal da coluna vertebral; máquina   fotográfica digital SONY 6.0 mega pixels, para registro de fotos   digitais na avaliação postural; negatoscópio Carci para a visualização   das radiografias; mesa apropriada para R.P.G.; jogo de calços;   goniômetro; fita métrica; ficha de avaliação das cadeias musculares,   constando os seguintes itens: queixa principal (Q.P.), história da   moléstia pregressa (H.M.P.), história da moléstia atual (H.M.A.),   problemas associados, aspecto psicológico, dados do raio-x, inspeção   geral (I.G.), interrogatório (I.N.), exames de retrações e testes de   reequilibração. Utilizou-se o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido   (Apêndice A) para autorização da participante nesta pesquisa   científica.
  Coleta de Dados
  A coleta de dados iniciou-se quando a mãe da paciente procurou a Clínica   Escola de Fisioterapia no setor de Ginecologia e Obstetrícia de Santa   Fé do Sul-SP. A mesma relatou que sua filha de 14 anos, foi   diagnosticada pelo médico, através da radiografia e exame clínico, como   portadora de escoliose idiopática, procurando desta forma um tratamento   fisioterápico, sendo então, selecionada para participação desta   pesquisa. Através da radiografia, do teste de Adams e do protocolo de   avaliação postural global, pode-se constatar que a participante é apenas   portadora de escoliose idiopática. Foi entregue à mãe o termo de   consentimento livre e esclarecido e, após a autorização, foi iniciado o   tratamento na Clínica Escola de Fisioterapia no setor de Ginecologia e   Obstetrícia, que realiza a Reeducação Postural Global (R.P.G.), entre   outras técnicas.
  Procedimentos
  Primeiramente, foi colhida da paciente a sua Q.P. (Queixa Principal),   onde a mesma relatou dor no meio das costas, espalhando para os lados   (S.I.C.). Posteriormente, foi colhido a H.M. P. (História da Moléstia   Pregressa), onde a paciente relatou que há quatro anos, vem sentindo   muita dor (grau 8 – segundo a escala visual analógica) na coluna   vertebral na região tóraco-lombar, bilateralmente, quando a mesma   permanece por longos períodos na posição em pé, dor de estômago e   cefaléia. A paciente é praticante a seis meses, de natação e   hidroginástica, com freqüência de duas aulas semanais, totalizando   quatro horas semanais. À colher a H.M.A. (História da Moléstia Atual), a   paciente relatou que há seis meses estes sintomas intensificaram-se e a   mesma procurou tratamento fisioterápico na clínica escola de   fisioterapia – FUNEC de Santa Fé do Sul- SP, sendo então selecionada   para o estudo de caso neste trabalho.
  No aspecto psicológico, foi observado, que a paciente apresentava-se tímida, pouco comunicativa e introvertida.
  A radiografia segmentada da coluna vertebral foi analisada na vista   frontal, a fim de avaliar os ângulos escolióticos, através da medida do   ângulo de Cobb, onde foram mensurados 34 graus na curva torácica e 20   graus na curva lombar.
  Na inspeção geral foi observardo, que a paciente apresentava-se tanto tônica como astênica.
  No interrogatório, a paciente relatou dor na coluna vertebral em região   tóraco-lombar bilateralmente, quando em posição em pé com braços   fechados mantida por tempo prolongado.
  No exame de retrações, a cabeça da paciente mostrou-se anteriorizada, os   ombros em rotação interna, o dorso em cifose, acentuação da curva   lombar, a pelve em anteversão, os joelhos varos, os pés cavos e os   calcâneos varos.
  No exame de reequilibração foi observado, que na postura em pé ou   sentada com braços abertos ou fechados, a paciente apresentou muita dor e   impossibilidade de realizar o movimento durante o teste.
  Na realização do teste de Adams, foram identificadas duas gibosidades,   uma na curvatura torácia à direita e outra na curvatura lombar à   esquerda.
  No teste de flexão anterior, foi mensurada com auxílio da fita métrica, a   distância do dedo médio ao chão, 30 cm do lado direito e 31 cm do lado   esquerdo.
  A paciente foi posicionada para o registro fotográfico nas posições   anterior, lateral, posterior, e lateral fletido. A distância da paciente   em relação à parede foi de 82 cm e a máquina fotográfica digital   estabilizada pelas terapeutas, foi posicionada a 150 cm da paciente, a   paciente estava vestida com biquíni.
  A partir da avaliação inicial, foi traçado o plano de intervenção   fisioterápico baseado na técnica de Reeducação Postural Global (R.P.G.),   adequada ao quadro identificado.
  No início de cada sessão, foi realizada a liberação diafragmática com as manobras de arco costal e leque.

  Tratou-se a paciente na postura sentada e na postura rã em pé no centro.   Nessas posturas para corrigir a inclinação lateral, foram usados calços   sob os ísquios, do lado da convexidade para alongar o lado da   concavidade, para correção da rotação das vértebras, a paciente foi   derrodada. A tração axial manual foi mantida a todo o momento.

  O programa de tratamento foi composto por duas sessões semanais, com o   tempo de 50 minutos cada, por um período de 10 semanas, totalizando 20   sessões, sendo que a primeira, foi para a coleta de dados. Durante este   período de tratamento, a paciente foi orientada a não participar de   outra forma de tratamento fisioterápico.
  Após a realização das 20 sessões de R.P.G., foi novamente aplicado o   protocolo de avaliação postural global, seguindo os procedimentos   utilizados na avaliação pré-intervenção fisioterápica, além de registro   fotográfico, nas posições anterior, lateral, posterior e lateral   fletido, teste de Adams e flexão anterior de tronco. Nesta etapa, foi   realizada uma nova radiografia segmentada da coluna vertebral no plano   frontal e novos ângulos de Cobb.
  Resultados e Discussão
  Após o término do tratamento fisioterápico, a paciente relatou melhora   do quadro álgico (grau 2, segundo a escala visual analógica) na coluna   vertebral em região tóraco-lombar bilateralmente, ausência de crises de   dor de estômago e cefaléia.
  Para Keleman (1992), a expressão emocional reflete as espasticidades ou   fragilidades do organismo, isto é, fatores emocionais influenciam no   padrão postural.

  Para Knoplick (1984) apud Sá e Lima (2003), com crescimento das   vértebras essa curvatura vai se acentuando e continuará progredindo   enquanto o individuo estiver se desenvolvendo, sendo que a maioria dos   ossos se desenvolve até 17-18 anos. Após o tratamento foi realizada nova   radiografia segmentada da coluna vertebral onde foi observado redução   de 6 graus na coluna torácica e 3 graus na coluna lombar através do   método de Cobb. Souchard e Ollier (2003) caracterizam a escoliose   idiopática bidimensional, quando as vértebras somente inclinam-se no   plano frontal, giram no plano axial e não se colocam em póstero-flexão,   respeitando a cifose torácica fisiológica e seja qual for a causa da   escoliose, deve-se sempre a uma retração assimétrica dos músculos   espinhais. Daí a importância de trabalhar nos dois eixos, rotação e   látero-flexão, para corrigir as vértebras das curvaturas torácica e   lombar, comprovando desta forma a eficiência da técnica de Reeducação   Postural Global.
  Na inspeção geral pré-intervenção, foi observado que a paciente   apresentava-se tanto tônica como astênica, não havendo alteração   significativa na pós-intervenção.
  No interrogatório, houve melhora significativa após intervenção   fisioterápica da dor na coluna vertebral em região tóraco-lombar   bilateralmente, quando em posição em pé, com braços fechados e mantida   por tempo prolongado.
  De acordo com Moraes (2002), as alterações da postura nos servem como   orientação para chegar à origem da lesão, pois, considera-se o sistema   muscular de forma integrada, em que os músculos se organizam em cadeias.
  Após o término das 20 sessões, foi realizado novo exame de retrações que   forneceram resultados significativos quanto à simetria corporal.

  Souchard (1985), descreve que a contração muscular isométrica   excêntrica, permite a cada uma das fibras musculares, dilacerar seu   tecido conjuntivo. E de acordo Souchard e Ollier (2003), estas   informações sensitivas são a base para o equilíbrio. E o equilíbrio   segundo Bankoff, et al., (2007) é a capacidade para assumir e sustentar   qualquer posição do corpo contra a força da gravidade. Permitindo desta   forma, a simetria corporal.
  Amantea, et al., (2004), ressalta que uma tensão inicial nas cadeias   musculares é responsável por sucessões de tensões associadas, ou   mecanismos compensatórios.
  Na pós-intervenção fisioterápica, a paciente não mais apresentou dor ou   impossibilidade, e sim, grandes e pequenas compensações durante o exame.   Provando desta forma o conceito do autor citado anteriormente.   (SOUCHARD, 1985)
  Souchard e Ollier (2003) declaram que esta rotação é o resultado da   retração dos músculos rotador curto, longo e do transverso espinhal. E   estes, por sua vez, giram o processo espinhoso para a concavidade,   deixando os processos transversos mais proeminentes. Esta gibosidade   está presente na curva escoliótica torácica e lombar, e para corrigir   esta gibosidade deve-se derrodar as vértebras comprometidas.
  Chamada de a grande cadeia mestra posterior, estes músculos tem   tendência à contração permanente, pois estão sempre em atividade, mesmo   sem movimento. (FERNANDES; GASPAR; VENTURA, 2007). Isto prova o   mecanismo para a fluagem no interior do músculo, pois qualquer músculo   fibroso fluirá antes de um músculo normalmente flexível. (SOUCHARD,   1985). Na pós-intervenção fisioterápica, mensurou-se 4 cm para o lado   direito e 5 cm para o lado esquerdo, sugerindo assim melhora da   flexibilidade e alongamento da cadeia mestra posterior.

  De acordo com Souchard (1989) a liberação diafragmática consiste em   liberar as relações agonistas-antagonistas do diafragma frente à massa   visceral e abdominal. A manobra de liberação diafragmática, permite a   função normal do diafragma de elevar-se passivamente expulsando o ar,   deixando os músculos espinhais relaxados.
  Segundo Souchard (1986), o encurtamento dos músculos inspiratórios,   provocará a própria incapacidade de aproximar eficientemente suas   extremidades, ficarão fracos por serem fortes demais, e provocará   também, atrofia dos expiratórios, seus oponentes.
  De acordo com Souchard e Ollier (2003), quando se trata de corrigir a   coluna vertebral, deve-se lembrar da bidimensionalidade, que compõem a   rotação e a látero-flexão
  Para Souchard e Ollier (2003), a postura sentada possibilita a correção   da látero-flexão e da rotação, e a postura rã em pé no centro, além   destes mecanismos, atuou segundo Marques (2000), na coluna vertebral, no   quadril, nos joelhos, nos pés, no equilíbrio e no esquema corporal.   Trabalha também as reações de equilíbrio ascendente, isto é, os pés, em   posição de apoio. Exige-se do paciente a correção quase milimétrica e   constante dos pés, impedindo o aparecimento de compensações.
CONCLUSÃO
  Conclui-se com este trabalho monográfico, a eficácia da técnica de   Reeducação Postural Global (R.P.G.) em 20 sessões, que promoveram   diminuição em 6 graus na curvatura torácica e 3 graus na curvatura   lombar do ângulo de Cobb, aumento da flexibilidade, liberação das   retrações das cadeias musculares, diminuição da dor na coluna vertebral,   no estômago e também a cefaléia, pois ocorreu fluagem no interior dos   músculos espinhais retraídos. Sabe-se que a fluagem ocorre por   dilaceração do tecido conjuntivo, promovendo desta forma os benefícios   citados a cima e proporcionando uma alternativa de tratamento   conservador da escoliose em um paciente esqueleticamente imaturo.
  Entretanto, esta pesquisa esclareceu dúvidas sobre a técnica de R.P.G.,   contribuindo para os avanços na área da fisioterapia aplicada a   ortopedia na escoliose idiopática, e ainda disponibilizando de uma   referência para pesquisa, pois a literatura pouco se refere a escoliose e   seu tratamento com técnicas globais, porém, sugere estudos mais   aprofundados sobre a técnica abordada e de seus efeitos fisiológicos   após o tratamento.
REFERÊNCIAS
  AMANTEA, D.V.; et al. A importância da avaliação postural no paciente   com disfunção da articulação temporomandibular. 2004. Diponível em:   http//www.scielo.br/.?IsisScriptScieloXML/sci_2004 f= pdf/. Acesso em:   15 fev.2007.
  BANKOFF, A. D. P. et al. Análise do equilíbrio corporal estático através   de um baropodômetro eletrônico. s. d. Disponível em: . Acesso em: 21   mar. 2007
  FERNANDES, G. H.; GASPAR, R. C. A.; VENTURA, H. B. Reeducação postural   global experiência clínica. s. d. Disponível em: . Acesso em: 31 jan.   2007.
  KELEMAN, S. Anatomia emocional. Traduzido por Myrthes Suplicy Vieira. São Paulo: Summus, 1992.
  LIMA, I. A. X.; SÁ, A. F. Os efeitos do método isostreching na   flexibilidade do paciente portador de escoliose idiopática. Terapia   manual. Londrina. s.ed., v.2, n.2, p.62-68., out. 2003/dez. 2003.
  MARQUES, A. Cadeias Musculares Um Programa para Ensinar Avaliação Fisioterapêutica Global. 1ª ed. São Paulo: Manole, 2000.
  MORAES, L. F. S. M. Os princípios das cadeias musculares na avaliação   dos desconfortos corporais e constrangimentos posturais em motorias do   transporte coletivo. 2002. Disponível em: . Acesso em: 30 jan. 2007.
  SOUCHARD, P. E. Ginástica postural global. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
  ____. O diafragma. São Paulo: Summus, 1989. (a)
  ____. Respiração. 3 ed. São Paulo: Summus, 1989. (b)
  ____. Reeducação postural global. Tradução Maria Ângela dos Santos 2.ed. São Paulo: Ícone, 1986.
  SOUCHARD, P. E.; OLLIER, M. As escolioses: seu tratamento fisioterapêutico e ortopédico. São Paulo: É realizações, 2003.
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